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A baixa autoestima pode ser a raiz de transtornos mentais e dos males sociais. Mas por que, mesmo sabendo disso, esses danos ainda se abatem sobre nós?
Fala-se muito sobre a autoestima, mas, apesar disso, ainda há confusão a respeito da questão, muitas definições parecem antagônicas e algumas pessoas misturam seus indicadores com a autoestima em si. Inclusive entre os psicólogos, psiquiatras e especialistas, não existe unanimidade sobre a definição exata da autoestima (4:11). Por isso, faremos uma série de posts abordando sua definição, sua origem, seus pilares e as implicações psicopatológicas e socioeconômicas de uma autoestima baixa.
A autoestima, para algumas autoridades no assunto, não só é um indicador do nível de saúde mental (1:21), senão que também afeta diretamente a saúde mental, podendo estar na raiz de transtornos como a ansiedade, a depressão e as adições, bem como no uso da violência, na passividade crônica e no fracasso escolar e profissional (1:23). É mais, em 1984, um estudo realizado pela Comissão da Califórnia para a Promoção da Autoestima e a Responsabilidade Pessoal e Social concluiu que a autoestima é capaz de curar os males sociais (1:22).
Poderíamos indagar, então, por que uma questão tão importante, ou melhor, essencial na nossa vida, é tão abordada, direta ou indiretamente, em oficinas, workshops, cursos, capacitações e treinamentos, enfim, está presente em qualquer assunto relacionado ao desenvolvimento pessoal, mas, apesar disso, os efeitos negativos que acabei de descrever continuam se abatendo sobre nós, tanto pessoal quanto socialmente?
Compreendemos mal seu conceito, ainda não sabemos como desenvolvê-la ou a estamos tratando de forma superficial?
Para responder a esses questionamentos e tirar nossas conclusões, comecemos examinando as definições do termo autoestima ao longo do tempo e nas diferentes escolas.
As principais concepções da autoestima
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William James (1842-1910), considerado como o pai da psicologia norte-americana, entendia que a autoestima de uma pessoa é medida comparando suas conquistas a suas aspirações. (1:17)
Carl Rogers (1902-1987), o fundador da psicologia humanística da aprendizagem, dizia que temos três concepções de quem somos: uma real, uma ideal e outra que percebemos como real; a autoestima seria, então, a distância entre elas. (2)
Virginia Satir (1916-1988), notável psicoterapeuta familiar e trabalhadora social, “insiste no reconhecimento que deve ser concedido à unicidade de uma pessoa e à aceitação de todos os seus traços físicos, emocionais, habilidades, qualidades, erros, etc.”. (1:28)
Nathaniel Branden (1930-2014), psicoterapeuta canadense e uma autoridade no assunto, define a autoestima como uma “experiência fundamental de que podemos levar uma vida significativa e cumprir com as exigências”. A confiança na nossa capacidade de pensar e “enfrentar os desafios básicos da vida”, e no nosso direito de ter sucesso e ser felizes. “O sentimento de ser respeitáveis, dignos, de ter direito de afirmar nossas necessidades e carências, de atingir nossos princípios morais e de desfrutar do fruto dos nossos esforços.” (3:21-22).
O desenvolvimento da autoestima
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Existem inúmeras publicações dedicadas a ensinar como desenvolver a autoestima e, entre elas, destaca-se a obra de Nathaniel Branden, mais especificamente “os seis pilares da autoestima”, que consiste em explicar de que se trata cada um desses pilares e propor vários exercícios para otimizá-los.
Particularmente, aprecio muito o livro citado e o considero uma excelente base teórica sobre o assunto. No entanto, tenho minhas ressalvas com respeito aos exercícios, os quais consistem em completar afirmações iniciadas. Não tenho a menor dúvida de que escrever, ao completar tais afirmações, seja um excelente recurso neurológico para um trabalho racional, de fato, está mais que comprovado cientificamente que escrever à mão gera benefícios para o cérebro. Contudo, as raízes de uma autoestima negativa se encontram em camadas mais profundas do ser, razão pela qual se concentrar somente na parte racional acaba sendo uma medida superficial.
Abordagem aprofundada da autoestima
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Como vimos, na segunda pergunta pudemos responder também a terceira. Por mais que o desenvolvimento da autoestima esteja presente em diversas pautas, ainda nadamos na superfície, ignorando a complexidade do ser quando a abordamos. Somos seres físicos, mentais, emocionais, mas também espirituais, e ignorar essa complexidade gera um abismo entre “o crescimento psicológico e a plenitude espiritual” (1:10), fazendo com que a “autoestima” forjada em tais circunstâncias não se sustente ao longo do tempo.
Então, o que é autoestima?
“Eu fico com a pureza da resposta das crianças, é a vida, é bonita e é bonita”.
Desculpe, não pude evitar (rs)!
Para o psicólogo Jean Monbourquette, duas concepções sobre autoestima se complementam, a de Virginia Satir, que defende a aceitação da pessoa em si, com todos seus aspectos, e a de Nathaniel Branden, para quem a autoestima está intrinsicamente ligada ao rendimento, ao desenvolvimento das habilidades. (1:28)
A autoestima consiste em nos reconciliarmos com quem somos, com todos os nossos aspectos, positivos e negativos, porque somos únicos.
Com uma autoestima positiva, sabemos que não somos perfeitos, que estamos em constante aprendizagem.
Se temos uma autoestima saudável, aceitamos a realidade como ela é e nos responsabilizamos por nossas decisões.
Quando desenvolvemos autoestima, é importante para nós dizermos e fazermos o que queremos, o que gostamos. A opinião alheia perde força e aprendemos a amar nossas habilidades e a nos dedicarmos a elas, em cumprimento da missão que abraçamos.
Então, Virginia Satir e Nathaniel Branden tinham razão, mas juntos. Como seres espirituais em crescimento, precisamos aceitar quem somos e o que queremos fazer e respeitar nossos processos, pois nosso progresso só pode ser medido quando a referências somos nós mesm@s, sem nos compararmos aos os outros.
Jean Monbourquette, nesse processo, destaca a autoconsciência, afirmando que a autoestima é o resultado do conjunto de avaliações que manifestamos sobre nós mesm@s. (1:28). É ele também que aborda a questão sob uma ótica mais abrangente e holística, provavelmente pela importância que dá à Espiritualidade.
Como dá para perceber, o assunto é bem amplo e daria um texto muito extenso se o abordássemos em um só artigo. Então, chegamos ao final deste post e te convido para ler os posteriores e saber um pouco mais sobre a autestima.
No próximo post, o assunto vai ser a origem da autoestima.
Leia os outros artigos da serie
A relação entre a autoestima, as psicopatologias e as questões socioeconômicas
Referências
1. MONBOURQUETTE, Jean. De la autoestima a la estima del yo profundo. Trad. M. A. Mier y D. Garnier. 2 ed.: Ed. Sal Terrae. Cantabria, 2004.
2. ANDRÉS, Verónica de; ANDRÉS, Florencia. Confianza total – para vivir mejor. Ed. Planeta. Buenos Aires, 2011.
3. BRANDEN, Nathaniel. Los seis pilares de la autoestima. Trad. Jorge Vigil Rubio. Ed. Paidós. Cidade do México, 2008.
Escrito por Marinalva Silva
Terapeuta Holística
Fundadora de Spiralis – Ser Integral