Foto: @wayhomestudio
Continuando com a nossa série de posts sobre a autoestima, neste vamos falar sobre a origem da autoestima, se ela é inata, genética ou nasce em algum momento da nossa vida e, se é assim, em que condições isso acontece.
Alguns estudos revelam que a genética determina aproximadamente 30% da autoestima e que essa porcentagem está mais relacionada com “o nível de extroversão-introversão ou a estabilidade emocional. Por outro lado, outros consideram que a autoestima é o resultado de um processo de construção a partir de ações e emoções vivenciadas ao longo da vida. (1)
Já Alfred Adler (1870-1937) defendia que todos nascemos com complexo de inferioridade que permanece conosco ao longo da vida e, como forma de compensação, tentamos desenvolver um sentimento excessivo de superioridade (2:19). Será mesmo? Retomaremos essa tese antes de terminar este post.
Nathaniel Branden, no seu livro “os 6 pilares da autoestima”, explica quais são as condições favoráveis e desfavoráveis para uma autoestima positiva. Segundo ele, um ambiente familiar saudável, com pais cuja autoestima também o seja, com regras bem definidas e baseadas na responsabilidade e com estímulo à autoaceitação constituem as melhores condições para uma criança desenvolver uma autoestima sadia. Do contrário, um entorno familiar adverso tende a gerar uma autoestima negativa. (3:81)
Virginia Satir, em “novas relações humanas no núcleo familiar”, afirma que crianças que crescem em famílias conflituosas frequentemente crescem se sentindo inúteis, podendo “desenvolver comportamentos destrutivos contra si mesmas e contra os outros”. (4:41)
Sharon Wegscheider-Cruse, no seu livro “aprenda a se amar”, apresenta a baixa autoestima como resultado do excesso de pressão dos pais aos seus filhos, que são criados em um ambiente cujas regras são muito rígidas, as expectativas depositadas neles são muito altas e as emoções não são levadas em consideração. Segundo ela, quando isso acontece, elas não desenvolvem maturidade emocional e, quando crescem, por mais que respondam às exigências das responsabilidades da vida adulta, intimamente se sentem vulneráveis como crianças (5:31).
Explica, ainda, que pais com muito sucesso profissional e econômico, que geralmente são muito ocupados, acabam abandonando seus filhos emocionalmente, fazendo com que eles cresçam com esse vazio que não sabem explicar, já que não conseguem descrever nenhum acontecimento traumático que justifique sua insegurança, mesmo apresentando “sintomas” similares aos de crianças criados por pais alcóolatras. (5:35).
Algumas vezes, quando a criança precisa sobreviver em um lar disfuncional, nos quais “o medo, a culpa, a raiva e a dor são muito intensos”, ela aprende a bloquear o que sente, desenvolvendo um mecanismo de defesa. No entanto, quando cresce, ela continua criando novas barreiras porque não sabe lidar com seus sentimentos e emoções, é quando surgem comportamentos prejudiciais que agem como dispositivo de proteção, como a compulsão por comida, o excesso de álcool, sexo, entre outros. (5:38)
Mas as consequências não param por aí. Esse adulto, ao não saber lidar com o que sente, é incapaz de se conectar consigo mesmo e, portanto, também não pode se conectar genuinamente com outras pessoas (5:38), fazendo com que suas relações tendam a ser tóxicas e frustrantes.
Para Jean Monbourquette, existem três causas para o que ele chama de desprezo por si mesmo, ou baixa autoestima: a decepção por não ter atingido as expectativas, as mensagens negativas recebidas na infância e “os ataques da sombra pessoal” (6;115). Vejamos como ele explica cada uma delas.
Foto: kassoum_kone (Pixabay)
Decepção por não atingir as expectativas
Já vimos antes como o excesso de pressão exercido pelos pais pode prejudicar a segurança dos filhos, mas a interpretação de Mounborquette parece se referir mais a um sentimento inato, espiritual, explicando que a decepção provém “da busca por uma felicidade e uma perfeição absolutas” e, em tal caso, precisamos aprender a aceitar que não somos perfeitos e desenvolver a humildade (6:115).
Mensagens negativas recebidas na infância
Ele se refere não só aos comentários, senão também às mensagens não verbais manifestados já muito cedo, pois até mesmo um bebê é sensível para notá-las. Ela se apresenta nos
“gestos de impaciência e agressividade dos pais, mesmo que se trate de cansaço, uma depressão, uma rejeição inconsciente pela criança, negligência na higiene, invasões na intimidade infantil, atitudes de violência ou abusos sexuais, a criança grava isso na memória e no sistema nervoso.” (6:115-116)
E a criança cresce com sentimento de inferioridade e se comparando com uma personalidade ideal inalcançável.
Os ataques da sombra pessoal
Acontece quando a pessoa não aceita a sua sombra, ou seja, seus aspectos que não foram desenvolvidos por serem considerados inadmissíveis socialmente. Ela, então, esconde tudo no inconsciente, embora essa sombra aflore de vez em quando. Quando ela é acolhida ao aflorar, a pessoa pode trabalhar sobre ela; se ela é rejeitada ou ignorada, se transforma em um adversário que a ataca na forma de mensagens de autodesprezo (6:116).
Algumas considerações
Antes de concluir, é importante esclarecer que nascer e crescer em um lar funcional ou disfuncional é um fator que pode influenciar na autoestima, mas não é determinante. Isso porque tudo vai depender da interpretação de cada pessoa. E que esse lar seja amigável ou não, também pode depender da percepção que os filhos tenham dele, ou seja, os pais podem não ser negligentes, mas os filhos, às vezes, sentem o contrário.
Outro ponto que é preciso deixar claro é que os pais não são seres maléficos, pelo menos a maioria não é. Eles são também o resultado do que vivenciaram nos seus lares e no seu entorno enquanto cresceram e, certamente, criam seus filhos convictos de estarem fazendo o melhor. Eles possuem suas próprias feridas e traumas, além de serem humanos e, portanto, passíveis de erros.
Também quero destacar que, infelizmente, em muitos lares brasileiros estar presente em todas as oportunidades para atender às necessidades das crianças não é uma opção para os pais, já que vivem em condições financeiras precárias e se submetem a trabalhos igualmente precarizados, deixando pouco tempo e energia tanto para si mesmos, quanto para seus filhos. Não é de se estranhar que essas crianças cresçam com a autoestima muito baixa, não só pelas consequências das carências vivenciadas pelos pais, senão também pelo abandono social. Mas isso já é assunto de um outro artigo da série.
Foto: Pixabay
Conclusões
Após discutirmos todas as teses por trás da gênese da autoestima numa visão mais psicológica do ser humano, gostaria de trazer à tona uma perspectiva mais espiritual.
Como foi dito, embora o ambiente seja importante para o desenvolvimento da autoestima, ele não é determinante, já que cada pessoa faz sua própria interpretação da experiência vivida. E por quê?
Lá no comecinho, quando apresentei a tese de Alfred Adler, para quem todos nascemos com a autoestima baixa, falei que voltaria no assunto, lembra? Se considerarmos cada indivíduo como um espírito passando por uma experiência física, essa tese não parece tão estapafúrdia, pelo menos não totalmente. O problema é a generalização, é afirmar que “todos” nascemos com a autoestima “baixa”.
Se como espíritos vivemos diversas existências físicas, trazemos conosco traumas, pontos a serem trabalhados e virtudes adquiridas, é natural que possamos trazer também uma autoestima “pré-fabricada”, seja ela alta ou baixa. Se ela é alta, por mais que vivamos em um ambiente adverso, ela não será afetada. Mas se ela é baixa, por mais carinhosos e atenciosos que sejam nossos pais e o entorno, nos sentiremos inseguros.
Concluindo, nossas experiências passadas se refletem no nosso presente, mas no presente temos a oportunidade de aprender para melhorar nossas vivências futuras.
Se você tem autoestima baixa e está aqui, é porque já se sente preparad@ para aproveitar essa oportunidade de se reconciliar com você mesm@ e começar a desenvolver uma autoestima saudável.
Chegamos ao final deste post e te convido para ler os posteriores e o anterior. No próximo, o assunto vai ser os pilares da autoestima.
Leia os outros artigos da serie
A relação entre a autoestima, as psicopatologias e as questões socioeconômicas
Referências
1. TABERNER, Carmen. SERRANO, Antonio. MÉRIDA, Rosario. Estudio comparativo de la autoestima en escolares de diferente nivel socioeconómico. Psicología Educativa. Vol. 23, Issue 1, Jun 2017, p. 9-17. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1135755X17300015
2. MONBOURQUETTE, Jean. De la autoestima a la estima del yo profundo. Trad. M. A. Mier y D. Garnier. 2 ed.: Ed. Sal Terrae. Cantabria, 2004.
3. BRANDEN, Nathaniel. Los seis pilares de la autoestima. Trad. Jorge Vigil Rubio. Ed. Paidós. Cidade do México, 2008.
4. SATIR, Virginia. Nuevas relaciones humanas en el núcleo familiar. Trad. José I. Rodríguez y Martínez. Ed. Pax, Cidade do México, 2002.
5. WEGSCHEIDER-CRUSE, Sharon. Aprende a quererte. Trad. Tara Asun Blasco. Ed. Neoperson, Madri, 1995.
6. MONBOURQUETTE, Jean. Cómo perdonar. Trad. Milagros A. Mier y Denise Garnier. 4.ª, ed.: Sal Terrae. Cantabria, 1995.
Escrito por Marinalva Silva
Terapeuta Holística
Fundadora de Spiralis – Ser Integral